Apesar da voz alterada pelo câncer, Jacques Dussault mantém a franqueza. Recusando-se a dar muita importância à sua introdução no Hall da Fama do Futebol Canadense, o homem apelidado de “O Treinador” confidencia de passagem que tinha medo de morrer.
“É violento essa doença, ele escorrega. Estou um pouco melhor atualmente, mas estou me recuperando lentamente desse câncer de amígdala.”
O homem de 73 anos não poderia pintar um quadro melhor, já que a certa altura ficou confinado a uma cadeira de rodas para se locomover.
“Os piores são os efeitos colaterais”, diz Dussault. Também tive reação à quimioterapia, aquele tratamento não funcionou para mim. Eu me vi conectado em todos os lugares, parecia um computador.
Uma entronização representativa
O treinador fala das provações da vida ou da sua prolífica carreira, mantendo sempre um toque de humor.
Especificando que agora vive “na floresta”, em Val-David, Dussault estará em Montreal, a partir de sexta-feira à noite, para um cocktail organizado pelos Alouettes em homenagem a cinco futuros homenageados que marcaram a organização. Larry Smith, um construtor como Dussault, estará lá, assim como os ex-jogadores John Bowman, Josh Bourke e Lloyd Fairbanks. Sábado à noite, no jogo entre os Alouettes e os BC Lions, estes grandes nomes do futebol serão apresentados no intervalo.
No caso de Dussault, sua entrada no Hall da Fama é particularmente significativa para o futebol de Quebec, já que ele continua sendo um verdadeiro pioneiro. Ele também se tornou o primeiro franco-canadense incluído na categoria de construtores.
“Não é algo que me entusiasma essas coisas, comenta Dussault, sobre a homenagem que receberá. Estou longe de ser pretensioso quando digo isso, mas também não é novidade para mim ser o primeiro quebequense a conquistar algo no mundo do futebol.
Quebrar portas
Originário da região de Quebec, o treinador ainda não tinha 30 anos quando se viu, apesar do deficiente domínio do inglês, na comissão técnica da Universidade de Albany, no estado de Nova York.
“Naquela altura era muito importante para mim estar à altura para não fechar a porta, caso outro francófono quisesse seguir mais tarde”, afirma.
Essa experiência nos Estados Unidos lhe serviria então para se tornar instrutor dos Alouettes, dos Concordes e, eventualmente, treinador principal do Montreal Machine, na Liga Mundial de Futebol Americano, no início dos anos 1990.
“Não sou um carreirista, sempre tomei decisões instintivas”, explicou Dussault, que preferiu trabalhar extensivamente com jovens em diferentes escolas.
De 2002 a 2005, ele estabeleceu as bases do programa de futebol da Université de Montréal Carabins.
Crédito da foto: Dominick Gravel/Agência QMI
“Foi um bom desafio e eu não iria deixar os Carabins irem durante esses anos”, disse Dussault. Eu teria recebido uma ligação para treinar na NFL durante esse período e nem estaria lá.
Do jeito dele
Honestamente, “O treinador” sempre fez as coisas do seu jeito. Novamente no último sábado, esteve presente no jogo de abertura dos Carabins, no CEPSUM. Devido à sua saúde, Dussault deixou a porta entreaberta para possivelmente desistir no intervalo, mas ficou para assistir a vitória da Universidade de Montreal por 43-11 contra o McGill Redmen. Mais uma vez, foi a sua grande paixão pelo futebol que prevaleceu.
“Quando você é jovem, às vezes pensa que isso só acontece com os outros”, acrescenta, refletindo sobre sua batalha contra o câncer. Mas isso não é verdade.”
A inauguração oficial do Hall da Fama do Futebol Canadense acontecerá em Hamilton na sexta-feira, 15 de setembro. Dussault pretende estar presente e, especifica, iniciar seu discurso em francês.
“Ficarei feliz em lembrar ao resto do Canadá que o futebol está indo bem em Quebec”, conclui, com humor.