Embora faça parte da elite mundial do taekwondo, Marc-André Bergeron não teve escolha senão recorrer a uma campanha de angariação de fundos para financiar o seu maior sonho: participar nos Jogos Olímpicos.
Aos 32 anos, ele está em uma corrida para conseguir uma passagem para Paris no verão de 2024. Porém, para se qualificar, é preciso competir internacionalmente e gastar muito dinheiro.
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“Eu estaria mentindo se dissesse que isso não me causou nenhum problema. Às vezes chegava ao treino e tinha que me concentrar, mas pensava em todas as dívidas que tinha acumulado e nas contas que tinha que pagar”, confessou aquele que evolui na categoria acima de 87kg.
Diante dessa gritante falta de recursos, ele teve que estabelecer limites em vários eventos, incluindo o Grande Prêmio de Paris na próxima semana, palco da Copa do Mundo.
Mal-estar
Ao lançar sua página GoFundMe, Bergeron admite ter sido dilacerado por dentro. É o último recurso, mas ele não está pronto para desistir de tentar conseguir o dinheiro de outra forma.
“Honestamente, senti um pouco de desconforto fazendo isso. Minha namorada teve a ideia. Dissemos a nós mesmos que passa ou quebra”, admitiu, hesitante.
“Tínhamos realizado procedimentos para obter financiamento de outra forma, tentando contatar empresas ou pessoas que tenham interesse filantrópico no esporte”, revelou o natural de Quebec.
Na segunda-feira, uma semana após o lançamento da arrecadação de fundos, metade da meta de US$ 10 mil havia sido arrecadada. Este montante permitiria à Bergeron cobrir os custos de três ou quatro competições internacionais.
pouco orçamento
Para sobreviver, mesmo os melhores devem ter um emprego que lhes permita sobreviver, acredita Bergeron. Afinal, no Canadá o dinheiro injetado em uma disciplina como essa é limitado e as artes marciais nunca terão a mesma visibilidade que esportes profissionais como o hóquei.
Para obter ajuda, procure os governos federal e provincial.
“Existem alguns atletas de taekwondo no Canadá que têm a oportunidade de serem cardados pelo Sport Canada. Este não é o meu caso este ano. Já recebi cartões no passado, mas os cartões são bastante limitados e ainda mais do que nos anos anteriores. São cinco patentes distribuídas este ano e devo ter ficado em sexto ou sétimo”, explicou com pesar.
Sendo um atleta de elite, Bergeron financia sua carreira em parte através do Sport Québec. Ter um emprego permanente é impossível para ele, já que deve treinar seis vezes por semana para manter um nível digno da elite mundial. Entre ganhar dinheiro e perseguir o seu sonho, ele escolheu a segunda opção.
“Consegui um emprego como professor do ensino secundário, onde lecionei matemática no 5º secundário. Além disso, tenho um “emprego” como bartender algumas vezes por semana para sobreviver, para satisfazer as minhas necessidades. estamos falando do aluguel, dos mantimentos. Além disso, há custos de concorrência, então é muito, já que não tenho a patente”, lembrou, dizendo que teve de se contentar com dois terços do seu orçamento para 2022.
Desigualdade
Para ser competitivo com as estrelas internacionais do taekwondo, Marc-André Bergeron passa a maior parte do tempo treinando. Tem ajuda, mas não pode pretender usufruir das mesmas condições que na Europa, onde os atletas contam com “instalações centralizadas, treinadores, staff e horários ajustados”.
“Não tenho uma realidade muito parecida com a das pessoas que enfrento. Ainda conseguimos, em Sainte-Foy, onde treino, recriar condições de desempenho adequadas para sermos ótimos e competitivos internacionalmente. Mas os atletas de casa, às vezes temos preocupações financeiras e preocupações que os nossos adversários não necessariamente têm”, lamentou.
Apesar de tudo, ele nunca pensou em desistir. Ele reavaliará suas opções após este ciclo olímpico, mas dívidas e despesas nunca o distraíram de seu sonho.
“Tenho o privilégio de ainda ser um atleta saudável. O corpo é resistente, não tive nenhuma lesão. Na minha cabeça estava claro que iria aos Jogos Olímpicos de Paris em 2024”, garantiu com um sorriso na voz.
Qual é o custo?
Classificado em 20º lugar no mundo em sua categoria de peso, Marc-André Bergeron terá que somar pontos valiosos se quiser ir a Paris para os Jogos Olímpicos de Verão.
O quebequense esteve perto de se classificar para as Olimpíadas do Rio e de Tóquio. Mesmo para este campeão canadense as vagas não são concedidas. Dezesseis atletas poderão participar dos Jogos. Os seis primeiros colocados da classificação geral se classificarão automaticamente e serão distribuídos dois passes.
Assim, o quebequense almejará uma das oito vagas restantes que serão disputadas nas eliminatórias continentais. É em março que devemos conhecer os taekwondoistas que irão para França.
Apesar da falta de financiamento, é importante participar no maior número possível de competições. Só que estes são realizados principalmente na Europa, o que beneficia atletas do Velho Continente.
“Atletas de todo o mundo têm que gastar somas astronômicas com hospedagem no local, (para pagar) o preço das competições, transporte, passagens aéreas e companhia”, lembrou Bergeron.
Veja o que uma determinada quantia de dinheiro pode comprar para você no mundo do taekwondo, segundo estimativa do atleta e sua equipe:
US$ 10.000: Entre três e quatro competições internacionais (inscrição + hospedagem + viagem)
US$ 3.000: Uma competição completa (inscrição + acomodação + viagem)
US$ 1.300: passagem aérea de ida e volta para uma competição europeia
US$ 700: Equipamento de combate completo (a ser trocado anualmente)
US$ 500: acomodação para um campo de treinamento
$ 270: Inscrição para uma competição internacional
US$ 150: tênis eletrônicos (a serem trocados a cada competição para maximizar o desempenho)
Para participar da campanha de arrecadação de fundos de Marc-André Bergeron: